quarta-feira, 23 de novembro de 2016

O tracinho no meio das datas

Viver dá um medo do caraças. De errarmos. De não aproveitarmos. De não dizermos ou fazermos tudo o que gostaríamos.

Aquele "tracinho" entre as datas (que vemos nas lápides....) se não nos assusta, devia fazê-lo. Porque só conhecemos a 1ª parte. E porque quando a 2ª chega é sempre como os tornados: há avisos, mas nunca sabemos a intensidade real.

Ontem levei um enorme murro no estômago ao final do dia. A minha filha vinha muito impressionada porque um miúdo do 7º ano tinha morrido de cancro. Porra, como é que um miúdo de 12 anos morre assim?? E explicar-lhe (ela anda numa escola católica....) porque é que Deus quis que o Afonso fosse mais cedo, quando era um exemplo até para os professores, pela garra, pelo "never give up"?? 

Intensidade. Passa a correr. E esquecemo-nos do que nos faz bem. De ir ver a Lua gigante, não porque é a maior em sessenta e tal anos, mas porque brilha todos os dias para nós. Até influencia marés e nascimentos e mais não sei quê! Mas nós é que lhe passamos ao lado! Como em tantas coisas na vida.... No amor, por exemplo. O dos filhos. O dos pais. O da pessoa que escolhemos para partilhar o caminho/carinho connosco. Faço e farei sempre questão de perguntar coisas tão simples como "estás melhor?", "chegaste bem?", "o que foi que disse o médico?". Mesmo que não o façam comigo. E porquê? Porque, quando chegar a segunda data depois do tracinho, vou saber que vivi como quis. E não mudarei porque "isto não é vida para ninguém. Deves fazer o que os outros te fazem." Por menos que isto se começa uma guerra. E não leva a lado nenhum.

Gosto de acreditar que o tracinho vai ter tanta coisa lá dentro de que me vou orgulhar quando vir tudo o que está entre uma e outra data. No preciso momento em que ouça um "está na hora". Até lá, por mais que só eu me magoe pela injustiça de haver um só lado, vou insistir. Never give up. Porque tem de haver resposta para a pergunta de ontem: o que é que Deus quer... Não é certamente que desperdicemos as datas com cenas que não interessam. Só que amemos o que somos, o que fazemos, que tenhamos muito gozo pelas pequenas coisas a que os outros não ligam. Até ao dia em que deixemos de as fazer ou dizer. Porque o tracinho é um intervalo entre 2 datas: como começámos algo e como a terminámos. E só a nós diz respeito. E ao Senhor lá de cima. A propósito: Dá um abraço apertado ao Afonso! Diz-lhe que os colegas e professores que tiveram a honra de o conhecer têm muitas saudades.... 

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Nada bate o regresso

Invariavelmente depararmo-nos com um vôo atrasado da TAP. Meia hora que se junta às 3 de espera no aeroporto em Bruxelas. Tanta vontade de chegar.
Um livro fantástico que nos isola a viagem toda. E que só permite levantar a cabeça para admirar o espectáculo que é Lisboa vista do céu à noite.
Malas azuis e cinzentas (menos a minha, tinha de ser!!), pessoas azuis e cinzentas.
A esperança de que não esteja a chover para abrir as janelas do carro e cheirar o ar da nossa cidade.
Pressa de só chegar. Atirar os sapatos. Desarrumar a mala. Poder escutar o barulho que o silêncio faz. Avisar a nossa-mais-que-tudo que chegámos e que foi tudo bem e perguntar "e que tal por cá?". Ouvir o "tudo bem, beijinhos" que nos despacha a grande velocidade mas que nos tranquiliza de que há situações/pessoas que não nos decepcionam. Basta só não termos estranhas expectativas....
O pai que viaja sozinho com as 2 miúdas pequeninas e que recusa, admirado, a minha oferta de ajuda, soltando um "not needed, but thank you, fantastic!".
Casa, finalmente. Aguarda-me um grego. Não desses. De morango mesmo. 
E a certeza absoluta que ir é bom mas que nada é melhor que regressar.